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Capítulo II – A Descoberta do Mapa

 

     No cimo de um escadote enorme, Pedro analisava, na biblioteca da gruta, os livros que se encontravam no topo da estante:

     - Só encontro biografias de Luna. São escritos por diversos escritores: Tomás Lobo, a Sare Grimo, a Mónica Corja, … - ao mesmo tempo colocava os livros em cima da escada encostados à sua barriga.

     - Eu também! – gritou Maria, que estava a fazer o mesmo que ele.

     - Eu acho que esta biblioteca é exclusivamente sobre a vida de Luna - anunciou Sandrina, em cima das costas de uma cadeira a remexer as estantes.

     Ela era boa no equilíbrio. Movia-se ora para a esquerda, ora para a direita levando a cadeira consigo, de modo a percorrer a estante na horizontal.

     - Estou farto de tantos livros! Filo Sofi biblo – disse JM, lançando um feitiço aos livros.

     Inclinou a mão para controlar os livros que voam para fora das prateleiras um a um. À medida que começaram a ganhar cara com expressões faciais diferentes, devido à sua identidade única e personalidade própria, apresentavam-se pelo seu título, autor e tema.

      - JM, tens que me ensinar esse truque! As coisas que tu aprendeste, só para não teres trabalho – disse Sandrina, saltando das costas da cadeira, sorrindo de alívio e cansaço.

     - Trááágiiicooo amooor! De Sooofiiia Teeempreeestee, bioograafiiia de Luunaaa - gritou um livro, com uma voz pontiaguda.

     - Cala-me esse livro! A voz dele faz doer os ouvidos. Se não fosses um livro enfeitiçava-te para nunca mais falares – ameaçou Maria.

     - Trááágiiicooo amooor! Fuiii escriiitoo poor Soof….

     - Cala o livro! – pediu Pedro, desesperado.

     - Não consigo! - respondeu JM.

     Ele tinha a mão esquerda num ouvido e com a outra mão tentava controlar os livros de modo a ficarem no ar. Caso, os livros caíssem podiam-se estragar, por serem muito antigos.

     - E só existe um livro que fala do amor de Luna – cantarolou o livro desafinadamente. – Que sou eu! Eeeuuu, eu, eeeuuu!

     - Se não te calas…

     - Eu não gosto de ser ameaçado – continuou ele, a cantarolar desafinadamente. – Por isso, vocês não ver o segredo que eu guardo. E vou calar-me para sempre!

     - Finalmente fechou a matraca! Ele é como tu, JM, quando começa a falar nunca mais se cala! – disse Pedro, em tom de brincadeira.

     - Ei! Tu não me compares à voz esganiçada do livro “Trágico Amor”!

     - Até tenho medo de ouvir os outros. Devias contratar o Maestro Suli para ensinar o “Trágico Amor” a cantar.

     Riram descontraidamente, porque no fim a situação parecia cómica:

     - Ah! Ah! Ah!

     Seguiu-se a apresentação dos restantes livros que se relevou tranquila. No fim, JM elevou mais a mão e moveu para a frente como estivesse a empurrar algo invisível. Às suas ordens os livros começaram a voar para o lugar que ocupavam na estante.

     Sem se aperceber, Pedro desequilibrou-se das escadas e caiu de costas.

     - Pee-drooo – gritaram os amigos, em coro.

     Sandrina tentou manter a calma:

     - Egue rape – ergueu a palma da mão para cima, para tentar controlar a queda dele. – Não está a resultar!

     Desesperada começou a gritar a fórmula várias vezes, mas o feitiço não resultava.

     Ainda se encontrava a alguns metros do chão, quando Pedro agarrou um livro que voava de regresso à sua estante. Neste embate, ele bateu violentamente no móvel e soltou um grito de dor. Ao mesmo tempo, agarrou a estante com a ponta dos dedos.

     "Aguenta, aguenta!” pensavam os aigmas.

     - Estou a escorregar – sussurrou ele.

     - Levis escadote! – exclamou Maria, erguendo a mão.

     O escadote de Pedro que estava caído no chão, controlado por Maria ergueu-se verticalmente e movimentou-se de modo a ficar encostado ao móvel. Ele passou os pés para a escada e só depois soltou os dedos da estante, movendo a parte superior do corpo para cima desta. Começou a descer lentamente, devido às dores que sentia. Já se aproximava do chão quando bateu com a costa da mão direita num livro que estava na ponta da estante e caiu violentamente no chão.

     " Cuidado! Tem calma! Está quase...”, pensava Pedro.

     - Está tudo bem! Desce devagar – informavam os três aigmas.

     Quando Pedro, finalmente, põe os pés no chão sussurrou:

     - Ufa! Foi por um triz que não…

     JM correu para abraçar o amigo e perguntou:

     - Estás bem?

     - Já estive melhor…

     - Dói-te o quê?

     - O corpo todo, mas o peito principalmente.

     - Vamos a enfermaria - pediu Sandrina, enquanto o abraçava preocupada.

     Entretanto, Maria que acabara de descer o escadote pegou no livro que tinha caído e leu baixinho o título:

     - “ Luna, A Grande Maga”.

     Abriu-o, folheou e surgiu um desenho que despertou a sua atenção.

     - Venham ver… - chamou Maria, enquanto caminhava em direcção à mesa redonda e o pousou. – Julgo que encontramos algo importante.

     - Do mesmo pintor que retratou Luna reencarnada, também proferiu o local de vivência da sua nova vida – leu Pedro.

     - É um desenho esquisito – disse Sandrina.

     - É um mapa! – explicou Maria – E é…

     - Hã? Eu só vejo uns riscos que fazem… que fazem nada – opinou JM.

     - É um país do Mundo dos Homens. Eu sei que é!

     - De onde tiraste essa ideia? – perguntou Sandrina.

     - Das aulas de geografia do Mundo dos Homens. Lembras-te?

     -Nem por isso…

     - Onde há um globo?

     - Talvez no andar de cima da biblioteca – sugeriu Pedro.

     Subiram as escadas colossais em caracol, que eram de madeira. Neste andar, encontraram uma sala grande com uma mobília requintada de uma madeira de cor clara. As janelas eram grandes e deixavam entrar o sol radioso, iluminando-a. As paredes estavam embelezadas com quadros que retratavam a vida quotidiana dos aigmas. No chão, havia uma carpete vermelha que alcatifava o meio da sala, onde similarmente tinha uma mesa de vidro. À volta das paredes, os globos faziam fila indiana parecendo estátuas que a enfeitavam.

     - Esta sala é dedicada exclusivamente aos mapas e globos. Há de todas as épocas e dos dois Mundos - leu Pedro, numa moldura pendurada à entrada.

     Bastou esta leitura para provocar a impaciência em encontrar um mapa ou um globo do Mundo dos Homens. Poucos minutos depois, as prateleiras e os globos estavam todos remexidos e foi Sandrina que chamou:

     - Encontrei! Vejam…

     Com os olhos bem abertos e atentos, iam rodando o globo. Não conseguiam encontrar o formato do país do livro. Ao fim, aperceberam-se que o globo era do século V e estava muito desactualizado. 

      - Tantos mapas! Tantos globos! E nada… - desesperava Pedro. – Sarji Marnia!

      Apareceu um globo virtual do Mundo dos Homens que rodava sobre si.

     - És um génio!

     - Eu sei! Só me falta sair da lamparina!

     Desataram todos a rir e as quatro cabeças debruçaram-se sobre o globo que girava.

     - É um país da Europa, tenho a certeza – informou Maria. – Foi os últimos que estudei. Pará de rodar!

     Com o dedo indicador percorreu a Europa e anunciou alegremente:

     - Cá estás tu!

     -Portugal! – leram os quatro, em coro.

 

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