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     Nota:

     Existem dois Mundos: o dos Homens e o da Magia.

     No primeiro, habitam os seres humanos que acreditam que só existe vida no planeta deles, ou seja desconhecem o Mundo da Magia. Por sua vez, os que vivem neste último, conhecem a existência do Mundo dos Homens e até por vontade própria poderão viver no mundo deles.

     Os aigmas são um dos povos que habitam o Mundo da Magia e são iguais aos humanos em termos de fisionomia. O que os distingue é o facto de os aigmas possuirem magia e os humanos só a conhecerem dos contos de fadas que escrevem.

 

 

Capítulo I – A missão

 

            Chovia torrencialmente e os relâmpagos iluminavam a floresta. Isabel aconchegava-se à sua capa magicamente impremiável e quente para se proteger da chuva e do frio. Por vezes, tinha que segurar no capucho que divertidamente o vento lhe queria arrebatar. Tentava andar depressa, lutando contra o vento e o solo lamacento. Mas percebeu que era uma batalha perdida, porque a Natureza é invcencível nas noites invernosas como nos esplendorosos dias de Primavera.

     “Porquê é que eu só fiz metade do caminho a cavalo!?”, pensou ela, irritada consigo própria.

     Ela gostava de se aventurar na floresta em noites chuvosas. Mas como tinha pessoas à sua espera não queria chegar atrasada e o tempo estava a dificultar-lhe a tarefa da pontualidade.

     Atravessou a clareira e pouco depois avistou uma gruta que estava coberta por uma trepadeira que floria flores lilases. Desenhou um sorriso nos lábios e só a noite o testemunhou.

     A chuva caía sem dó nem piedade. As folhas arqueavam com o embate da água, as flores mais sensíveis perdiam petálas e alguns ramos quebravam com a ferocidade do vento. Um relâmpago, por uns instantes, deu luz própria à floresta e revelou alguns segredos: uma raposa estava aninhada dentro de um tronco de árvore caído e oco para se proteger do temporal e a uns bons metros de distância um cavalo negro como o ébano pastava a erva macia e fresca.

     Isabel olhava em direcção ao céu para mirar um pinheiro altissímo que estava por perto, como se fosse um gesto casual. Um dos seus ramos estava a servir de poleiro a um mocho que tinha uns grandes olhos amarelos, estava ensopado e as penas precipitavam pingos de água como as nuvens. Os olhares de ambos cruzaram-se, durante algum tempo. Qualquer humano interpretaria como algo vulgar e sem importância. Mas o que se passou a seguir já seria uma estranha coincidência! Isabel piscou-lhe um olho e o mocho soltou um grande pio.

     Sem esperar mais, ela desviou a trepadeira como se tratasse de uma cortina e entrou na gruta. Enfrentou outro tipo de escuridão e esta era realmente assustadora, porque não se via um palmo à frente do nariz. Estalou os dedos e surgiu uma chama do lado direito da parede da gruta. Era uma tocha que iluminava pouco mais para além da entrada. Retirou-a, percorreu uns três metros e encostou-se à parede rochosa que estava tão fria que lhe provocou um arrepio. Com os seus dedos longos e finos procurou uma ranhura secreta nela e clicou. A parede rugiu como se ganhasse vida, porque a rocha estalou para esculpir uma porta giratória. Ela soltou a tocha que ficou suspensa no ar magicamente e uma leve brisa apagou-a. Os seus olhos nem tiveram que se habituar à escuridão de novo, porque num rodopio rápido foi levada para outra divisão.

     Encontrava-se numa sala confortável e espaçosa. Na parede que ficava à sua frente, havia uma lareira, onde as chamas brincavam entre si e aqueciam calorosamente tornando o ambiente agradável. As chamas iluminavam o relógio de madeira de mogno, que estava incorporado graciosamente na lareira e marcava as onze e meia da noite. Por cima dela, havia dois quadros que cativava qualquer olhar. Retratava duas jovens belas, mas distintas. A do lado direito tinha a pele clara, olhos e cabelos como o chocolate, os fios do cabelo eram longos e ondulados caíndo levemente pelos ombros, o nariz era pequeno e redondo, a boca era pequena e perfeita. A outra jovem do quadro do lado esquerdo, não era menos bonita. Tinha a pele branca como a neve, olhos cor de avelã, cabelo liso, longo e loiro como o ouro, o nariz bem delineado como os gregos e os lábios rubros como o sangue.

     Nos sofás, quatro jovens conversavam alegremente e divertidamente, que nem se aperceberam da chegada de Isabel. Ela rompe as vozes alegres e animadas que pairavam na sala, com a sua voz delicada:

     - Boa noite! Estão muito divertidos! É bom sentir o espírito que os jovens têm!

     - Boa noite, professora Isabel! - cumprimentaram os quatro jovens, em coro.

     Ela despiu a capa, que pingava constantemente gotas de água, revelando o seu vestuário completamente seco. Sacudiu-a e magicamente a água evaporou e ficou completamente seca. Sempre sorridente, explicou:

     - Desculpem o atraso! Parte da culpa é do tempo. Apesar de eu gostar das noites chuvo-sas - o seu olhar perdeu-se nos sapatos que estavam sujos de lama. - Menos disto!

     Eles não resistiram em soltar uns risinhos em coro.

     Isabel estala duas vezes os dedos, o que significa que tinha feito dois feitiços. A capa voou até o cabide para ficar ali a repousar até ordem em contrário e uma escova apareceu do nada e começou a esfregar os sapatos com uma rapidez que nenhuma mão humana poderia fazer. Passado um minuto, a escova desapareceu e os sapatos brilhavam de limpos e de engraxados.  

     - Eu sou igual a si! Adoro noites chuvosas acompanhadas dos gritos dos relâmpagos - anunciou Maria.

     - Bem sei, o teu espírito demonstra isso. Mas vamos ao que interessa: o motivo porque estamos aqui reunidos - disse ela, com um tom de voz animado, ao mesmo tempo que se sentava na poltrona.  

     - Estamos curiosos! Nunca estivemos nesta gruta e nem sabíamos da sua existência - informou Pedro, que ansiava saber o que se passava.

     Isabel olhou-os um a um. Por um instante, ficaram em silêncio e ouviram a chuva a cair bruscamente. E pela janela viram o nevoeiro a ficar mais intenso, parecendo que ia encerrar a imensa floresta em torno de si. Rompendo os sons que a Natureza transmitia e o silêncio da sala, explicou:

     - Esta gruta nunca foi conhecida por nenhum aluno. Vocês são uns sortudos por saberem a sua localização!

     - Porquê é que nenhum aluno a conhece? - perguntou Pedro.

     - Porque esta gruta é um dos lugares que pertence ao Conselho de Lis.

     - Li no Jornal Oficial Real que a professora Isabel foi eleita na semana passada como nova Presidente do Conselho de Lis – informou JM.

     - É verdade, João Maria! Eu sou a nova Presidente. Nova direcção, novos objectivos a atingir e a resolver. O importante agora é que o Conselho de Lis escolheu quatro aigmas para uma missão de extrema importância e responsabilidade…

     - Esses quatro aigmas somos nós? - interrompeu Sandrina.

     Isabel acenou com a cabeça afirmativamente e retomou a conversa:

     - Já passaram oitocentos anos, desde a morte trágica de Luna… Não preciso contar a história, porque a sabem na ponta da língua! Não sabem?

     João Maria, mais conhecido por JM entre os amigos, respondeu rapidamente:

     - Claro que sim! Quem não a sabe? A professora Isabel ensinou essa passagem histórica muito bem. Nem me quero lembrar dos trabalhos de pesquisa que tive que fazer! - fez um careta. - E o teste? Foi um testamento e…

     - JM, cala-te! Sempre que começas a falar é complicado calar-te! Professora Isabel, continue. Afinal qual é a nossa missão?

     - Obrigado Pedro, pela gentileza! Então, segundo a Lei da Magia a Luna terá uma oportunidade de viver mais uma vida. E já regressou…

     - O quê? – gritou JM, quase caindo do sofá com a novidade. - A Luna vai viver no nosso século? Que espectáculo! Ela nasceu hoje? Já sei! Vai nascer dentro de pouco tempo…

     -Tem calma rapaz! És sempre tão impulsivo - interrompeu Isabel. - A Luna já nasceu há dezasseis anos. Deverá estar a completar os dezassete.

     Surpreendidos pela notícia, os quatro aigmas ficaram a olhar uns para os outros.

     - A vossa missão é encontrar a Luna – revelou ela num tom sério, seguido de um semi-sorriso.

     Um breve silêncio foi feito na sala da gruta. A chuva parou. Ouviram as gotas de água simplesmente a cair das árvores e das plantas. Era um som engraçado que parecia música que a Natureza tocava para anunciar o fim de uma noite tranquila.

     - Eu não sei o que pensar! Tenho a cabeça cheia de perguntas e não encontro respostas. Porquê nós? Somos meros alunos! Os magos têm um nível de magia, maturidade, experiência e outras condições que se adequam a esta missão de extrema importância.

     - Até pode ter alguma razão, Maria. Mas há o reverso da moeda! O Conselho de Lis tomou esta decisão por vários motivos. Primeiro, porque vocês são quatro aigmas muito inteligentes. As meninas já estão no último ano da escola e está a chegar a altura de cumprirem uma missão para o décimo terceiro ano ficar completo. E cá está ela! É uma boa prova para pôr os vossos conhecimentos em prática. Quanto aos dois rapazões…

     Eles não resistiram em dar umas boas gargalhadas com o elogio.

     Isabel retomou a explicação e insistiu na piada:

     - Quanto aos dois rapazões estão acabar o décimo ano, com excelentes notas e vão subir mais um patamar na escola, portanto está na altura de cumprirem uma missão. Segundo motivo: a Luna tem mais ou menos a vossa idade. Penso que será mais fácil ser pessoas da idade dela a revelar a sua vida passada.

     - Será? – interrogou-se Sandrina. – Quando souber que na vida passada foi a Luna só existe duas reacções possíveis…

     - Fica feliz e orgulhosa por ser quem foi e quem é agora ou fica completamente perdida e nem vai querer acreditar – completou Maria.

     - Tudo é possível, o melhor é não especular – opinou Pedro, com um ar preocupado.

     - Outro pormenor é que não sabemos onde a Luna está e como se chama agora - informou Isabel, num tom calmo.

     - Não sabem nada sobre ela! Como a vamos encontrar? - perguntou Sandrina, inquieta.

     - A professora Isabel vai encontrar a Luna e informa-nos da sua localização. Depois é só falar com ela! É canja! - disse JM, sem ainda ter noção da responsabilidade.

     - João Maria, não é nada disso! A vossa missão é precisamente essa! Parece que vai ter que fazer mais um trabalho de pesquisa – esclareceu Isabel, com uma gargalhada para desanuviar o ambiente pesado. - Esta gruta tem toda a informação que precisão para a encontrar.

     - Mas que informação é essa?

     - Livros confidenciais! E o mais importante é que há um quadro que a retrata como ela será!

     Num impulso, os quatro aigmas olharam para os quadros que se encontravam por cima da lareira.

     - Sim, é a Luna! - confirmou Isabel. – No passado e no presente. O quadro do lado direito é como ela será agora!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                                   

 

Livro do Dia e da Noite - A união de dois Mundos

Lê o próximo capítulo que já está disponível 😉

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